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Amanda Costa

Podcast: Ep 7- MV Bill diz que projetos sociais reduzem criminalidade

Ex.Saúde, Presidente, Governo

Neste sétimo e último episódio do Podcast: Dos griôs da África para as periferias do mundo: 50 anos de Hip Hop o rapper MV Bill é o entrevistado. A conversa foi gravada em agosto para a Agência Brasil, no marco dos 50 anos da block party dos irmãos Cindy Campbel e Kool Herc.
MV Bill, o Mensageiro da Verdade, nasceu na Cidade de Deus, bairro da zona oeste do Rio de Janeiro, poucos meses depois do Hip Hop surgir em Nova York. Ele é um dos precursores do movimento que, inspirado naquele caldo cultural da periferia de Nova York, acabou se instalando no Brasil a partir da década de 80.
Ativista, o rapper de reconhecimento internacional, lançou seu primeiro álbum em 1993, é um dos fundadores da Central Única de Favelas, a Cufa, e também integrou a primeira formação do Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), órgão com representantes da sociedade civil para debater os conteúdos e extinto em 2016, por medida provisória, após o impeachment de Dilma Rousseff. No fim do ano passado, foi apresentado seu novo álbum Dr. Drill, no qual faz novas apostas rítmicas sem perder de vista a crítica social e o chamado à conscientização, marcas de suas letras.
“Vejo claramente a diferença dos lugares que abrigam projetos sociais para os lugares que não têm. Nos lugares que têm projetos sociais, a incidência de jovem indo para a criminalidade é muito menor. Não estou dizendo que não tenha, mas é muito, muito menor. Já num outro lugar, onde esses projetos não chegam, pô, infelizmente ainda tem muito jovem que acha que o tráfico de drogas é um meio de ascensão social, o que é uma grande inverdade e uma grande ilusão.”
Mesmo entendendo que projetos sociais principalmente para a juventude são essenciais, ele tem claro que organizações como a Cufa não devem substituir o poder público e que as instituições devem cumprir o seu papel. Para ele é importante mostrar que ainda existe essa lacuna e destaca que é um cara político, mas político social.
Clique no player acima e ouça a entrevista completa..
Você pode conferir, no menu abaixo, a transcrição do episódio, a tradução em Libras e ouvir o podcast no Spotify, além de checar toda a equipe que fez esse conteúdo chegar até você.
EPISÓDIO 7 – MV Bill
Sobe som 🎶  
Vinheta: Dos griôs da África para as periferias do mundo: 50 anos de Hip Hop 
MV Bill: E vejo claramente a diferença dos lugares que abrigam projetos sociais para os lugares que não têm. Nos lugares que têm projetos sociais, a incidência de jovem indo para a criminalidade é muito menor. Não estou dizendo que não tenha, mas é muito, muito menor. Já num outro lugar, onde esses projetos não chegam, pô, infelizmente ainda tem muito jovem que acha que o tráfico de drogas é um meio de ascensão social, o que é uma grande inverdade e uma grande ilusão.
 Sobe som 🎶  Soldado do Morro – MV Bill 
“É muito fácil vir aqui me criticar
A sociedade me criou agora manda me matar
Me condenar e morrer na prisão
Virar noticia de televisão
Seria diferente se eu fosse mauricinho
Criado a sustagem e leite ninho
Colégio particular depois faculdade
Não é essa minha realidade
Sou caboquinho comum com sangue no olho
Com ódio na veia soldado do morro”
Cai a BG  🎶  
Daniel Mello: Para finalizar esta série especial sobre os 50 anos do Hip Hop, trazemos um bônus. Uma entrevista com o rapper MV Bill, o Mensageiro da Verdade, que nasceu na Cidade de Deus, bairro da zona oeste do Rio de Janeiro, poucos meses depois do Hip Hop surgir em Nova York.
Rapper de reconhecimento internacional, lançou seu primeiro álbum em 1993, é um dos fundadores da Central Única de Favelas, a Cufa, e também integrou a primeira formação do Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), órgão com representantes da sociedade civil para debater os conteúdos e extinto em 2016, por medida provisória, após o impeachment de Dilma Rousseff.
Eu sou Daniel Mello, jornalista da Empresa Brasil de Comunicação, e estou apresentando este podcast. A entrevista com MV Bill foi feita pelos jornalistas Léo Rodrigues, da Agência Brasil, e Carolina Pessoa, da Rádio Nacional. A gravação estava marcada para ser feita na Cidade de Deus, mas em decorrência de uma operação policial na comunidade no dia, ocorreu por videoconferência.
 A conversa ocorreu em agosto de 2023, por ocasião dos 50 anos do dia considerado o marco zero da cultura Hip Hop: em 11 de agosto de 1973, quando ocorreu a block party dos irmãos Cindy Campbell e Kool Herc, no prédio do bairro do Bronx, em Nova York, atualmente reconhecido como o “berço do Hip Hop” pelo estado norte-americano.
 Sobe som 🎶  
Léo Rodrigues: A gente sabe que o Hip Hop tem uma importância muito grande como movimento cultural, como movimento social, que ajuda a mudar a vida de muitas pessoas na periferia e ao mesmo tempo precisou lutar muito por espaços, né. Hoje a gente já tem festivais específicos de rap, né, coisas que não existiam há alguns anos atrás. A discussão da criação do Dia Nacional do Hip Hop e a Semana de Valorização do Hip Hop. Essa luta por espaço é uma luta permanente. Como é que você vê esse cenário do movimento Hip Hop hoje?
MV Bill: Eu vejo que teve um crescimento muito grande, né, avançou bastante, principalmente na questão que era uma discussão pra mim que era totalmente infundada, tipo se o rap é ou não uma música, sabe? Eu acho que ao longo dos anos provou que rap sim é música, só que é uma forma diferente de fazer. Você pode fazer com o auxílio de um DJ, que aí você fica na parte eletrônica, mas já tem inúmeros que misturou rap com banda eu tenho, sei lá, uns 3três, quatro projetos assim, teve muitas críticas se o que eu ia fazer a música ou não. Mas acho que foi o preço que a gente teve que pagar lá atrás pra que hoje a nova geração pudesse usufruir disso sem ter que ficar explicando que é música também, falando da música rap. Mas do Hip Hop como movimento, enquanto cultura, é uma cultura que contém quatro elementos, e o rap é só um desses elementos. Dança, grafite, DJs, competições de dança, e mais a música rap. Falta um pouco disso ainda no Brasil. Talvez quando a gente tiver pessoas nossas, não somente trabalhando na parte musical, como rapper, como MCs, mas também trabalhando nos bastidores, na curadoria de eventos, captando verba, sendo dono do evento, acho que isso vai fazer com que a gente coloque o Hip Hop como um todo em evidência, e não somente a música rap.
Léo Rodrigues: O rap sempre esteve muito vinculado a temáticas sociais, às questões, as demandas da periferia. Nesse momento a gente tem alguma questão específica que está mais em voga, que aparece mais no rap em termos de temática. Em questão de musicalidade também, a gente teve alguma transformação do rap nos últimos 20, 30 anos?.
MV Bill: Olha, com o crescimento apareceu também um pouco do esvaziamento desse discurso, né? À medida que a gente tem jovens de classe média, de famílias mais abastadas, jovens brancos também fazendo rima e fazendo sucesso, muitos assuntos acabam saindo de pauta, como por exemplo o assunto racial, social, violência, porque são jovens que não vêm necessariamente desse tipo de realidade, desse tipo de convívio. Então esses assuntos eles não estão tão presentes como já estiveram em outrora. Isso não quer dizer que não tenha gente da atualidade fazendo bons trabalhos e trazendo essa temática, tem, mas tem que garimpar. O que está fazendo sucesso e mais tá em voga nesse momento são raps que não falam dessa realidade, que falam de amor, falam de diversão, de ostentação, algumas letras denegrindo a imagem feminina, sem tirar o mérito dessas músicas e desses artistas.
Carolina Pessoa: O que você acha que é que se deve a esse fenômeno? Você acha que tá faltando mais consciência social? Por que que tomou esse caminho?
MV Bill: Acho que talvez seja um caminho natural, né? Por conta do crescimento. Eu acompanho bastante a cena norte-americana e a cena do Hip Hop europeu também. E vejo que eles acabaram indo por esse caminho. Então, acho que o crescimento de qualquer movimento, de qualquer cena, acaba trazendo esse lado mais pop pra aparecer. Isso vai desde os artistas, os contratantes que preferem os artistas que têm essa cara e essa forma mais pop, né? Que não estão enraizadas dentro do movimento. E acho que o público também tem uma influência muito grande nisso, né? À medida que o público faz as suas escolhas de qual artista que ele vai ouvir, de qual artista que ele vai preferir, ele tá ascendendo mais o artista e escondendo outros, né? Já que hoje a gente não tem tão forte a cultura do jabá, que paga pra tocar na rádio, sabe? Ou que só vai ser sucesso se for trilha sonora de uma novela. Hoje muita coisa que faz sucesso sequer apareceu na grande mídia. É sucesso resultado do nosso like, do clique das pessoas. Então, se a gente tem um grupo de pessoas pretas, de favela, que estão dando um clique num artista que nunca ligou pra vocês, vocês vão estar exaltando alguém que nunca vai estar preocupado com a sua questão social e racial. Então, acho que falta um pouco dessa consciência de público. Cara, a gente é um público grande e forte, a gente pode levantar qualquer artista, pode levantar qualquer pessoa, pode levantar qualquer influencer, mas infelizmente as pessoas pretas, boa parte delas, as pessoas de favela, ainda não têm essa consciência.
Léo Rodrigues: Teve até um episódio recente envolvendo o Djonga, algumas pessoas criticaram o disco novo que ele fez, falando que ele não tava falando tanto de questões sociais. E aí ele até no Twitter respondeu, olha, eu tenho, sei lá, dezenas de músicas que falam de questões sociais, mas eu como rapper também sou uma pessoa comum, uma pessoa que também gosta de amenidades e também posso em algum momento querer falar de outras coisas, né. Será que o rap em alguns momentos tem sido cobrado para ser só uma coisa e não pode ser várias coisas ao mesmo tempo?
MV Bill: Quando eu lancei meu primeiro disco, em 2000, Traficando Informação, eu sofri muito com isso depois, né. Mas eu nunca levei isso a sério. Nunca deixei isso interromper ou interferir no meu criativo. As pessoas começavam a procurar em todos os discos uma música Soldado do Morro, que foi minha primeira música, no Traficando Informação. Então todo disco que eu lançava, as pessoas iam procurar o Soldado do Morro lá. Mas não dava pra fazer músicas como Soldado do Morro assim de uma hora pra outra. Ali eu vivia um momento específico, morando numa Cohab dentro da Cidade de Deus. Quase não saía de casa, então a minha janela virava tipo uma tela de cinema, onde eu ficava vendo tudo aquilo que eu narrei acontecer, sabe? Eu tinha um tipo de vivência que hoje eu nem sei se eu conseguiria fazer uma música como essa, cheia de verdade. Eu talvez ia ter que inventar, porque eu não vivo mais aquilo. E tipo, quem quiser ouvir uma letra minha como Soldado do Morro, a música tá lá, em todas as plataformas, disponível pra você ouvir a hora que você quiser. Mas como artista eu preciso ter a minha criatividade liberada pra falar de outros assuntos, pra falar desse assunto de outras formas, no caso do Soldado do Morro, eu ainda fiz umas duas músicas, fiz a música Soldado Morto e O Soldado que Fica, mas sem pressão, eu mesmo senti que dava pra fazer, que era uma necessidade minha. Mas isso não quer dizer que eu só vou falar desse assunto, eu tenho músicas que falam de relacionamento, tenho músicas sobre entretenimento, e eu acho que tem que ser assim mesmo, eu sei qual que é a minha raiz. Você jamais vai lembrar de mim, ah, Bill aquele cara que canta música A Noite. Não, Bill que canta o Soldado do Morro, Bill do Só Deus pode me julgar, é do dedo na ferida. Essa é a minha raiz e isso é o que me caracteriza O que não quer dizer que eu também não possa ter uma música bacana e divertida como a música A Noite. Eu acho muito importante ter essa diversidade musical dentro de cada artista.
Léo Rodrigues: Em 2024 a gente tem a Olimpíadas, né, e pela primeira vez o break, que é a dança do movimento Hip Hop, virou uma competição olímpica, né. Você acha que isso fortalece o Hip Hop?
MV Bill: Eu acho que vai ser importante porque break dance talvez seja um dos elementos menos reconhecidos da cultura Hip Hop, assim, falando bem a verdade. Os grafites são bem reconhecidos e são bem recompensados por alguém que quer fazer uma pintura, uma fachada na sua casa, ou outro tipo de planta qualquer, não precisa ser de Hip Hop. Os DJs tocam tudo quanto é lugar, tem DJ que virou DJ famoso no mundo inteiro, e o rap a gente já sabe que está em primeiro lugar nas plataformas. Já o break, os b-boys e b-girls não têm tanta visibilidade assim. Então eu acho que eles estarem dentro de uma competição olímpica, acho que vai colocar o elemento, a prática em evidência. E acho que em nenhum momento vai tirar a força do break que vem da rua, né? Que é um break completamente diferente, que não é competitivo olímpico, é competitivo da rua. Às vezes tem uma batalha de rua, ou às vezes é só dançar por hobby, só pra exercitar o corpo, ou só pra estar em contato mesmo com o movimento. Então, acho que uma coisa não vai anular a outra. Nesse caso, do break, acho que vai até acrescentar.
Léo Rodrigues: Você foi um dos fundadores da Central Única das Favelas, eu queria que você falasse um pouquinho da importância desse trabalho, né, que é pra sair do discurso e colocar também um pouco da prática, tentar criar mecanismos pra transformar a vida de pessoas da periferia.
MV Bill: Eu acho que quando surgiu a Cufa, foi uma grande oportunidade que eu tive de colocar em prática aquilo que eu estava só discursando nas minhas músicas, né? Ali junto com o Celso Ataíde, Nega Giza, lá no início de tudo, a gente fazendo algumas oficinas, aquilo foi crescendo. Como não tinha nenhum trabalho governamental que conseguisse alcançar o jovem da periferia, o nosso trabalho chegou como uma bomba, né, como uma grande salvação, um grande território de possibilidade para quem não tinha nenhuma. Com o crescimento do trabalho a gente começou a ir para todos os estados. E a cada lugar que a gente ia eu fui percebendo que a gente também foi criando novas lideranças. Logo eu percebi que chegou um momento em que eu não precisava mais ser o frente de tudo. Então hoje tem oito anos que eu não faço mais parte da Cufa, né? Continuo entusiasta da ideia, continuo amigo de todas as pessoas e tô sempre participando quando posso.
Léo Rodrigues:  É claro que assim, a Cufa deve ter até limitações orçamentárias, não vai conseguir resolver todos os problemas da periferia, mas indica um caminho do estado que poderia fazer muito mais do que faz, né, ou do que não faz hoje em dia.
MV Bill: Uma das coisas que eu tinha muita preocupação quando eu estava na Cufa era da gente não parecer querer substituir o poder público, sabe? Mas mostrar que existe uma lacuna na falta de política pública que eles não implementam ou quando fazem não chegam nesses lugares. Sou um cara político, mas político social, tenho meus posicionamentos políticos. Mas de levantar a bandeira para político, pedir voto, essa nunca foi a minha onda, né? E dentro da instituição, enquanto eu estava lá, eu também não podia deixar que cambasse, né, pra esse lado, então eu sempre tomei muito cuidado pra gente não substituir o poder público e nem deixar que ele também nos engula.
Léo Rodrigues: Eu queria falar um pouquinho também do seu disco mais recente, né? Doutor Drill. Você traz alguns assuntos que já apareceram em outros momentos da sua carreira, né? Questão da importância da educação, né? E também a crítica à cultura armamentista, né?
MV Bill: Nesse disco, primeiro dizer sobre a questão rítmica, né? Eu misturei com dois ritmos que estão bem em evidência na atualidade. Um deles é o trap e o outro é o drill. Só que eu fiz ambos a minha maneira, sabe, do meu jeito de fazer, sem autotune, sem voz robotizada, só o menino do refrão que fez. Pra esse disco eu quis trazer também algumas parcerias de gente jovem que eu gosto. Então tem ali o Major RD, que é da nova geração. A nossa história é muito bacana porque a gente se conheceu no festival, mas ele conhecia meu som porque o pai dele, que é da minha idade, mostrava minha música pra ele. Tem o Freud, que é de Brasília, que é muito versátil. O Lorde, que é do ADL, aqui de Teresópolis. Tem o Rod, que é da banda 3030, é da Bahia, lá reside no Rio de Janeiro. E a abertura do disco é feita pelo Eric Scratch. Então assim foi muito importante juntar essa galera toda, né, que é de outra geração, que é de outro momento, pra trabalhar junto comigo. Ainda tem o Rachid de São Paulo. Na música, por exemplo, Aulas e Palestras, a gente juntou ali três gerações. Tem o Major RD de vinte e poucos anos, o Rachid de trinta e poucos, e eu já na casa dos 40 e indo para os 50. E todos na mesma faixa, tá ligado? Isso pra mim é uma parada muito foda. E a gente traz dentro desses assuntos que não estão tão em voga, a gente fala da importância da escolaridade, da importância da educação. Na música Soudadril, a gente fala dessa ilusão dos jovens de favela que ainda acham que ser criminoso é legal, que entrar pro crime é tirar algum tipo de onda e quando morre é a família que vai chorar e quem tá mais prontinho na situação de amigo não vai nem ligar, então não vale a pena.
Léo Rodrigues:  E sobre o seu livro, A Vida Me Ensinou a Caminhar, você traz crônicas sobre sua vida, experiências que você teve e de que forma esse trabalho literário se relaciona com a sua produção musical?
MV Bill: Eu acho que totalmente, tem tudo a ver, as duas coisas estão muito ligadas, apesar de um livro ser completamente diferente na hora da escrita de uma música, no livro dá pra ser bem mais aprofundado. Mas apesar de ser literatura, é um livro também muito musical, né? Porque ao final de cada capítulo tem um QR Code, né, que te leva pra alguma mídia que tenha a ver com a história que você acabou de ler e muitas dessas mídias são musicais. E dentro das histórias também eu sinto muitas músicas, né? Nome de músicas que às vezes as pessoas ouviram, não sabiam que era rap e não sabiam o nome da música. E ali eu tive a oportunidade de registrar e deixar para a eternidade, né, como foi o meu começo, como foi o início da minha história, como eu conheci o rap, como me envolvi, como me inseri na cultura Hip Hop. E a minha história pessoal se confunde muito com a construção e o crescimento do rap no estado, aqui no Rio de Janeiro.
Léo Rodrigues:  Você fala da carência de escritores negros no mercado de livros e até os seus familiares questionaram se era você mesmo que tinha escrito o livro e tal e também se você tem alguma referência de escritores negros.
MV Bill: Dei uma risada aqui, mas é muito triste na real, quando você lança um livro, no meu caso, e meus familiares questionarem, né, se foi eu mesmo que escrevi, se eu tive ajuda de alguém. Porque eles também não estão acostumados a ver muitos escritores pretos. Eu já li muitos escritores pretos que eu gosto, da atualidade. Mas o que me levou a ser um artista multifacetado mesmo foram minhas referências do rap, né. Todos os caras que eu admirava lá de trás, da minha geração, se transformaram em ator, apresentador de programa, participaram de programas de auditório, viraram diretores de cinema e alguns deles também lançaram livros. Então, quando eu vi que dava pra ser rapper, mas também dava pra ser, porra, multifacetado, sabe, um artista multi, eu falei ‘cara, eu quero isso pra minha vida’. Os meus rap de história são cheios de detalhes, mas no livro a gente pode detalhar muito mais. E no livro a gente tem uma outra vantagem, que é que no Brasil as pessoas, o nosso povo aqui, ele é mais acostumado com músicas melódicas, com música que tem melodia. E as vezes o tipo de rap que eu faço não tem tanta melodia. Ele é mais letra, falado, sabe, muita informação. E não é todo mundo que tem um ouvido preparado pra isso. Eu conheço gente mais velha que fala, pô, Bill, é muito bom, só que fala muito rápido, eu não consigo pescar. Mas essa mesma pessoa, quando tem acesso ao livro, mano, aí o conteúdo é totalmente assimilado. Então, pra mim, além de ser uma forma de extravasar mais, acaba sendo também uma forma de me comunicar melhor.
Léo Rodrigues: Você, inclusive, foi do Conselho Curador da EBC. E a gente aqui, estamos aqui na luta pela comunicação pública, já tem um tempo, né? Passamos por um período difícil aí, o Conselho Curador foi inclusive cassado, ainda estamos na batalha para ele ser retomado. Queria que você me falasse um pouquinho dessa sua experiência. e como é que você vê, assim, uma comunicação pública ideal, o que deveria ser feito?
MV Bill: Cara, eu penso sempre que a imprensa tem que ser livre, né, cara! Ainda que seja uma imprensa estatal, acho que ela tem que ter total liberdade. Talvez a Empresa Brasil, talvez seja uma das poucas oportunidades que a gente tem de dizer o que pensa, né, de artistas poderem expor a sua arte. Talvez seja um dos poucos lugares que pode ter ainda uma programação isenta do poder do dinheiro das grandes corporações, das propagandas, mas ela não pode sofrer interferência governamental. Acho que ela tem que trabalhar com muita independência e liberdade, até para fazer crítica para o próprio governo, se for o caso. Infelizmente, na última gestão, né, foi bem desastrosa, achei até que fosse acabar com esse tipo de comunicação, que bom que não. E torço sempre para que vocês tenham bastante liberdade para fazer o jornalismo do jeito que tem que ser, livre.
Léo Rodrigues: E aí falando um pouco também de produção audiovisual,, eu queria relembrar aqui também o documentário que você produziu aí, o Falcão Meninos do Tráfico, e que já tem o que, quase 20 anos, né? E assim, quando a gente pensa, né, retratar uma realidade social, um documentário, a gente também tá pensando em transformação, né, em alertar, de certa forma conscientizar e pressionar, né? Pra que algo seja feito, pra mudar essa realidade.
MV Bill: Quando a gente lançou o documentário, houve uma comoção nacional. Muita gente se demonstrou preocupada, muita gente se demonstrou surpreso, não conhecia aquela realidade. Mas eu acho também que foi uma comoção que acabou passando, né, virou uma comoção momentânea. Eu acho que ali a gente como sociedade perdeu uma grande oportunidade de aproveitar aquele boom e olhar mais para a juventude. Não tinha como tirar os jovens que tinham me dado entrevista da criminalidade, não tinha como tirar quem estava no tráfico naquele momento. Mas podia ser feito um trabalho para coibir a entrada de novos jovens através de projetos, tentar se antecipar à criminalidade, não deixar que o crime virasse algo atrativo para a juventude. No entanto, nada foi feito. A política de guerra e de combate às drogas, porra, ela se demonstra fracassada à medida que isso aumenta. A política que a gente tem de combate é uma emissão somente através da morte, através da bala, da violência. Não existe um plano de inteligência. Mas parece que não é tão interessante salvar esses jovens. E isso virou uma tarefa mais nossa, mais do morador, mais de pessoas que são preocupadas, dos agentes sociais, mas isso deveria ser uma preocupação do governo. Por isso que eu defendo e sou um grande incentivador de pessoas de favela e pessoas pretas se candidatarem a cargos públicos. Porque hoje a gente faz uma coisa que eu acho ruim, ineficaz, pra gente alcançar bons resultados e objetivos, que é exigir de um político, na sua maioria, branco, hétero e rico, que olhe para essas mazelas que tem no Brasil. Pô, ele não vai olhar.
 Sobe som 🎶  Soldado do Morro – MV Bill
“Vida do crime é suicídio lento
Bangu 1 2 3 meus amigos tenho lá dentro
Eu to ligado qual é sei qual é o final
Um soldado negativo menos um marginal
Pra sociedade um a menos na lista
E engordar uma triste estatística
De jovens como eu que desconhecem o medo
Seduzidos pelo crie desde muito cedo
Mesmo sabendo que não há futuro
Eu não queria ta nesse bagulho”
Cai a BG  🎶  
Daniel Mello: Esse foi o último episódio do Podcast Dos griôs da África para as periferias do mundo: 50 anos de Hip Hop. Uma produção da Radioagência Nacional.
 Sobe som 🎶
Daniel Mello: A reportagem, entrevistas e narração foram minhas, Daniel Mello. A entrevista com o MV Bill foi feita por Léo Rodrigues e Carolina Pessoa.
A produção foi de Sara Quines.
Adaptação, edição, roteiro e montagem de Akemi Nitahara.
A coordenação de processos é da Beatriz Arcoverde
Sonoplastia: Jaílton Sodré
Implementação na Web: Beatriz Arcoverde e Lincoln Araújo 
A interpretação em Libras foi feita pela equipe de tradutores da EBC.
Música tema da série: Rappers Delight, de Sugarhill Gang
Neste episódio também utilizamos a música Soldado do Morro, de MV Bill.
Obrigada a você que nos acompanhou até aqui. Ouça outros podcasts da Radioagência Nacional nos tocadores de áudio e no Youtube, com interpretação em Libras. Estão disponíveis trabalhos como o Histórias Raras, Sala de Vacina, Imprensa Negra no Brasil e o infantil Crianças Sabidas.
 Sobe som 🎶  
Cai a BG  🎶  
Quer saber mais sobre o tema? Confira o Caminhos da Reportagem, produzido pela  TV Brasil e a série de entrevistas da Agência Brasil. 
Edição: Beatriz Arcoverde

A refinaria Landulpho Alves, na Bahia, foi vendida em 2021 por US$ 1,6 bilhão para a Mubadala Capital, fundo de investimentos da família real dos Emirados Árabes. O relatório afirma que a decisão da Petrobras de vender os ativos durante a pandemia pode ter gerado impacto na avaliação

O trabalho desses médicos nas comunidades contribuiu para evitar internações relacionadas a doenças como diabetes, hipertensão, obesidades e infartos 

No total, país desembolsou R$ 4,6 bilhões em compromissos, regulares e atrasados, com organismos internacionais, cotas de bancos multilaterais e recomposição de fundos 

A punição, que pode chegar a R$ 26 mil, poderá ser aplicada a quem deixar as crianças sozinhas em locais como elevadores, piscinas, saunas ou espaços de uso comum em condomínios.   

O Carnaval de Rua do Rio de Janeiro vai contar com 453 desfiles de blocos. A informação foi confirmada nesta quinta-feira (4) pelo presidente da Riotur, Ronnie Costa.

Os pacientes foram removidos assim que começaram as goteiras e ninguém ficou ferido. O hospital continua funcionando e a previsão é que o conserto seja concluído em até 48 horas
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SOBRE MIM
Amanda Costa
Natural do Ceará com 40+ apaixonada pelo Rio de Janeiro e carioca de coração. Defensora de causas sociais e políticas de grande relevância para o nosso Brasil.
#vamosquerer um futuro melhor.
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